Homem Vitruviano
Leonardo da Vinci
Leonardo da Vinci
Não existe mais nada que seja o bastante. Eu preciso de mais.
Por um momento permita-se esquecer os fatores externos, que fizeram de você, essa cópia barata de todos.
E dissolva-se.
Por um momento permita-se esquecer os fatores externos, que fizeram de você, essa cópia barata de todos.
E dissolva-se.
Dilua-se, para encontrar na menor parte de você o que é contínuo.
Talvez, removendo todas essas camadas de tinta seca, seja possível encontrar alguma alma.
Então.
Então.
Por um momento esqueça o nome que lhe foi dado.
Esqueça quem foram seus pais e o que eles lhe ensinaram.
Por melhor ou pior que tenha sido.
Não considere o que aprendeu e que já estava previamente escrito nos livros como sendo correto.
Recuse o politicamente adequado.
Não entregue-se a crueldade, não faça de toda essa dor um banquete.
Não se desvie.
Negue sua identidade, aquela que já encontra-se na verdade perdida.
Você não pertence a algo.
Você não pertence a algo.
Você não nasceu fazendo parte de algo.
Considere que não existe o algo para ser parte de.
Você não é um cidadão. Um número no registro geral do que é chamado estado.
Não é a posição geográfica em um planeta que define você. Raça, aparência.
Não é sua espécie. Deixe-a... Porque não vai ser isso que irá defini-lo.
Ignore as doutrinas religiosas.
Não é sua espécie. Deixe-a... Porque não vai ser isso que irá defini-lo.
Ignore as doutrinas religiosas.
Afinal, acredita mesmo que o simples fato ignorá-las o guiaria a estar nesse momento devorando o coração de alguém ao invés de estar lendo? Deixe isso ir.
Alguns dos maiores assassinos da história rezavam, embora nunca para o mesmo deus.
Alguns dos maiores assassinos da história rezavam, embora nunca para o mesmo deus.
Eram amantes das artes, embora a julgassem por seu valor e origem.
Eram eruditos, eram crédulos.
Esqueça.
Esqueça.
Esqueça-os.
Esqueça quem são seus amigos.
Seus inimigos.
O que é ou não pecado.
O que pode ou não ser feito.
O que existe ou é mito.
Abandone.
E quando acreditar que chegou ao nada, prossiga.
E quando acreditar que chegou ao nada, prossiga.
Até somente existir, única e exclusivamente, você e seu propósito.
Uma força da qual você não consiga se livrar.
O limite que indica quem de fato você é sob esse tom civilizado da sua pele, roupas, brincos, tatuagens. Livre-se das amarras.
Dessa carcaça, magnífica máquina e casco.
Dessa carcaça, magnífica máquina e casco.
Abandone.
Morra.
E ao deixar de existir.
Morra.
E ao deixar de existir.
Enxergue o que continua movendo você...Sem todos esses fatores externos.
Quais seriam suas escolhas?
Você ainda seria bom?
Você ainda seria humano?
Ainda seria você?
Abandone.
Abandone.
E entenda que aquilo que restar de você, será ironicamente, seu todo.
E essa coisa.
Isso.
Isso.
Esse indecifrável.
Incógnito conteúdo.
Será sua essência.
Será sua essência.
Será que nesse ponto ainda me escutaria?
Daria importância a algo?
Daria importância a algo?
O que teria peso em sua gravidade?
Quais seriam então suas escolhas e seus motivos?
Iria me abandonar? Apenas porque para mim não existe mais nada que seja o bastante.
Abandone.
Você precisa demais.
Você precisa demais.
...
Comentários
Como é bom ler algo assim, niilista até a medula. devastador e sutil como o espatifar de um jarro de vidro na casa silenciosa.
um abraço liguento.