A literatura ocorre nas entrelinhas.

Naquilo que não é dito.
No espaço entre as palavras, no tempo para digerir, visualizar e ser surpreendido. Na passagem de uma oração para outra, entre os pontos, entre as linhas. Na ausência e dentro do que não precisa ser dito ocorre a literatura.
É nesse vazio que eu encontro algum sentido.
Normalmente eu não falo de forma pessoal, não coloco-me diretamente no que escrevo, escolho falar sobre outras vidas, outros contos, sobre aquilo que não é meu... Exatamente porque irei falar para as pessoas e o que estiver escrito será então delas e não meu.
Talvez por isso sinto-me tão bem ao lado de linhas e escritores que são, sentem e compreendem o mundo de formas distintas e humanas.
É na soma desses pontos de vistas assimétricos que encontro e vejo equilíbrio.

Sobre o senhor Rodolfo diga-se; eu espero vê-lo sentado na cabeceira de uma grande e politicamente incorreta mesa de mogno, acompanhado pela fina nata dos pensadores. Tentando, com alguma dificuldade por causa da idade avançada, mastigar os biscoitinhos amanteigados e bebericar o chá morno servido aos ilustres membros da nova Liga Literária Brasileira.

Sobre a srta Juliana diga-se; o que a torna singular é a capacidade dela de estar na história. Certas pessoas contam, outras pessoas são o que será contado.
Ela sem dúvida é o que será contado.
A Liga não seria a mesma sem sua humanidade ou sem a velocidade de suas idéias. Nas palavras dela, nas linhas e entrelinhas, estão contidas a voz humana e a voz imortal da literatura.

Sobre o senhor Zé Raimundo diga-se; ele é um provocador nato. Alguém que ao mesmo tempo, sente-se provocado pelo mundo, por essa realidade tão alienígena e familiar. Ele é a questão que rompe o estabelecido e nos conduz, hora com a sutileza de uma brisa, hora com a irresistível força de um tornado.
Ele é o maciço pensamento que dispõem da profunda tranqüilidade e veracidade das rochas.

O corpo, a alma e a mente. Sinto-me bem por acompanhá-los nessas paragens. Sinto-me humano caminhando ao lado desses três.
Porque embora diferentes, sabemos que nós não viemos aqui dizer como a história vai terminar... Nós viemos aqui para dizer como ela vai começar.Viemos falar nas nossas entrelinhas... Em tudo o que não é dito.

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