Contentamento

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Contentamento.

A máquina Drummondiana visitou-me
naquele difícil e estranho dia.
(Como se os outros fossem diferentes !!!).
Trouxe-me os restos que abandonei no caminho,
mostrando-os não como simples pedaços de algo,
mas como coisas necessárias a ampliação da estrada.
Surrupiou toda a nitidez daquilo que insistia
em mostrar-se única via de compreensão
do que na verdade pouco se mostra.
Enumerou infinitamente os incalculáveis e improváveis
lados que uma visão comporta em si,
quando livre das amarras que moldam e deformam
o que já se estabeleceu anteriormente como valor
definido, calculado, programado e midiatizado.
Roubou-me a tranqüilidade das horas amenas,
afogadas em chás e suspiros profundos,
inflando o peito de luzidias imagens.
Rasgou o vazio que abocanhou espaço
disfarçado em contentamento lógico,
inundando-o de gritos, dores e por quês.
demoliu a lógica dos compartimentos,
desencaixando o que não cabe em lugar algum.
A máquina Drummondiana arrancou-me os sentidos
mergulhou-os no rubro sangue que ferve o pensar,
mostrando que sentir o caminho
é o primeiro passo entre os milhares a surgir
no aprendizado do caminhar.
Descobrindo que o abismo,
além da queda, ensina a voar.


Ninil-Zé 2008


Antônio Manuel Pinto da Silva- A sedução do abismo


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