Descartável ?

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Descartável ?



O que se condicionou a chamar


apenas de corpo,


sem um nome ou apelido


que lhe instaure no ser


a unicidade de sua existência,


foge por ruas iguais


de nomes sempre iguais.


Corpo desarmado, desalmado, desbotado,


sobra de algo que a fraca lembrança


esconde sob uma opacidade proposital


embebida em álcool e algo mais.


Amenizando os ais reais brutais,


fustigando o que sobrou (sobrou?)


do corpo carcomido pelos dias


infinitamente longos e hostis.


Sobra de tudo que não vale nada,


nada que não valha aquilo que sobra.


Mera imperfeição numa paisagem


devidamente calculada e higienizada


para que os cães e os casacos de pele


deslizem alegres e perfumados,


esperando que olhares dêem sentido


à essa existência rasa e superficial,


estruturada em valores de acúmulos abismais,


cúmplices ou munidos de total intenção


tanto na indiferença quanto na descartabilidade.


Colocando seres de potencialidades iguais


no canto mais sujo de um mundo à parte,


onde o que se tem para repartir


são as dores, os odores, o pão e a pinga.


Acolhendo sempre na embriaguez


a necessária lembrança


de que é preciso se esquecer


que foi esquecido.



Ninil-Zé





Comentários

Filipe Ribeiro disse…
Que foge por ruas iguais



de nomes sempre iguais.

Belo texto!