Sobre Meninos e Lobos

"Julgo importante ter um animal como característica de nossa personalidade e creio que o que nos é familiar guia-nos pela vida como um professor que ensina comportamento.
Animais sabem como viver bem em uma espécie infantil como a nossa, precisa de um guia para que possa aprender conhecimentos secretos.
Quando olho para um cachorro, vejo uma criatura nobre que nada sabe sobre mentiras ou como conciliar suas emoções, mas vive para agradar companhias.
Os cachorros têm uma vida de penúria que é aceita sem pestanejar. Gosto deste contraste. O que mais me chama atenção nestes animais é a maneira como influenciam as pessoas nas tentativas de se tornarem seres humanos. E eles são mais humanos que os próprios humanos. Mais humanitários do que jamais seremos."

Ray Caesar
















Não é difícil ver um lobo. A imagem está presente no inconsciente coletivo, gravada como um resquício da época em que os seres humanos eram caçados e não os caçadores. Impresso como uma memória genética em histórias, lendas e mitos.
Hati era somente um lobo, um animal sem intelecto ou princípios.
Seus olhos eram opacos e desprovidos de vida. Havia somente uma fúria desorientada e compulsiva. Eles guardavam o rancor e virtudes, adequados às tempestades e tornados. Se for verdade, que os olhos são as janelas da alma, então aquelas eram cobertas por camadas e camadas de pó. Como os vitrais de uma catedral, tentavam ocasionalmente deixar alguma luz entrar, mas recusavam-se a permitir que algo saísse.
Os caninos cerrados que continham as palavras e aguardavam ansiosos pela lua que deveria, precisava e seria esmagada entre eles. A forma ácida de sorrir, com aquelas fileiras de dentes afiados à mostra, saboreando o momento. Os pêlos negros sobrepostos, o aspecto organizado deles criava um paradoxo entre as demais partes. Partes que se contradiziam, opondo-se entre si. Exultando o caos.
Ele era partes, nunca o todo, como um quebra cabeça. Um enigma formado de possíveis propósitos diferentes.
Não havia aroma ou gosto em torno de sua existência; ele, para todos os efeitos, parecia uma imagem bidimensional desprovida de alma.
O incansável de sua existência e sua eterna busca pela lua tornava-o ainda mais improvável.
Ele não deveria ter carne, sangue e músculos. Não seria adequado a ele parecer real. Isso tiraria parte da aura de invulnerabilidade e insensibilidade necessárias a sua função e vitais para sua sobrevivência. Monstros não choram ou sentem.
Era sempre difícil saber o que ele estava pensando. - Moacir Novaes, "Pietra versus fenrir".

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