Carta para alguém do passado

Carta para alguém do passado...
...de alguém do futuro não muito distante


Realmente vocês conseguiram, quando via aquele comercial do “GreenPeace” achava que era puro marketing. Se eu contar como está a vida aqui no futuro vocês não vão acreditar, estamos lidando com climas completamente diferentes do que já experimentamos.
Para começar, não há mais oxigênio. Estou vivendo em uma cúpula com entrada subterrânea, às vezes me sinto naquele filme aí da sua época: “O vingador do futuro”. A diferença é que todos usam roupas protetoras e máscaras de oxigênio, estas, nos ajudam a respirarmos melhor, está certo que incomoda um pouco, mas pelo menos não sofremos com o racismo, pois fica impossível distinguir alguém debaixo de tanta roupa. E Árvores, ah! Aquelas árvores, alguns dizem que a NASA têm algumas em seu laboratório para experiências, mas a maioria acha que são apenas boatos, no entanto temos uma representação dela em um quadro que fizeram até um templo para reverenciá-la. E papel? Temos apenas dez centímetros, cujo nome era “papel higiênico” que provavelmente já foi usado por alguém, inclusive está no Museu Nacional ao lado de uma réplica perfeita de uma semente de Eucalipto.
O clima ficou muito mais quente, mas isso não significa que apenas transpiramos mais. Não sentimos mais aquelas suaves brisas em nossos rostos, o céu não é mais para aqueles que nasceram para voar. As formigas não mais fazem aquela trilha, que muitas vezes lhe causava horrores e raiva por estarem sujando o lugar que você acabou de limpar, os cães não correm mais atrás dos gatos que corriam atrás do rato onde era atropelado pela sua vassoura.
A água não mais dá de beber para aquele que tem cede e os peixes não podem mais serem pescados. Sorte nossa que os cientistas conseguiram converter terra em pílulas, onde satisfazem nosso organismo, é lógico que não é a mesma coisa que um prato de arroz e feijão junto com um suco que as mães ou esposas preparavam esperando o “homem da casa” chegar do trabalho para fazerem aquele ritual alimentício. Não temos mais aquele domingo feliz com macarronada acompanhada de um joguinho de dominó ou baralho.
Tudo isso se foi juntamente com os nossos carros, dinheiro, imóveis, roupas de grife. Enfim, cultivamos tantas coisas aí no passado e não conservamos a simples natureza, que afinal, não precisávamos pagar nada, simplesmente nada! Precisávamos apenas cultivá-la. Mas infelizmente trocamos tudo isso por um simples carro novo na garagem ou mesmo ser dono de uma empresa multinacional que trazia muitos lucros. Estávamos sempre colocando a responsabilidade nos cientistas, achando que eles iriam descobrir outra maneira de evitar o aquecimento global que não nos limitasse aos nossos desejos de posse e poder. Fico imaginando como era bom poder passear no bosque, quem sabe com uma namorada, esposa, filhos... Como era bom ver os filhos brincando na rua, hoje, ruas e bosques não mais existem.
Enfim, estamos em plena 3º guerra mundial, mas não é uma guerra política, e sim, uma guerra pela dura sobrevivência. E todos nos alistamos conscientes nesta guerra que parece não querer pedir paz. Então acorde! Mude o que nós conseguimos fazer, mas mude para melhor, mude para poderem VIVER. Por mais que pareça ingênua ou insignificante sua ação, com certeza vai refletir em alguém.
Portanto se vocês não fizerem alguma coisa, vão ver seus filhos, netos, pai e mãe, assim como toda a raça humana, se extinguir. E acredite, não queira passar por isso. Não queira viver com esta ansiedade de ver a extinção dos humanos para acabar com essa dor insuportável de ver como o ser humano nunca está contente com nada e como ele consegue destruir tudo que toca.

Comentários

Zé Raimundo disse…
Ora, ora, ora, senhor Rodolfo. Até que enfim você deu as caras na Liga. Há tempos eu esperava por uma postagem sua. Fiquei muito feliz mesmo! Isso mostra que já perdeu aquele medo de colocar à prova, os seus escritos. Não adianta nada, escrevermos pra nós mesmos. O ato de escrever é solitário, mas a amplidão da matéria prima que o faz existir, nunca nos deixará sozinhos, pelo contrário, ao nosso redor surgem mundos e mundos. Gostei muito do seu conto, pois ele vai em direção à uma das principais funções da literatura, que é o questionamento sobre as atitudes do homem perante o instante em que sua existência se desdobra, seus valores e consequencias. Espero que a próxima postagem não demore tanto, pois de onde saiu este conto, sei que tem muitos outros.