Sol vermelho, Areias negras.




O amor é um anjo chorando baixo sozinho em um quarto fechado.

Durante uma das raríssimas vezes em que me propus a falar sobre esse sentimento.
Notei que as pessoas me observavam com interesse quase exótico e com os olhos fixos.
Esperavam.
Espreitavam as palavras que eu dizia, aguardavam que estas caíssem da minha boca já mortas.
No entanto, olhavam surpresas, o movimento e vida existentes nelas.
Tentavam compreender como um animal, como eu, era capaz de falar daquela forma...
Sobre um sentimento tão "humano".

Após a curiosidade inicial, surgiam outras tantas dúvidas que aproximavam e distanciavam essas pessoas.
Atraia assim os sedentos e perdidos, repelia os culpados e arrependidos.

Tornava o amor, em minhas palavras, algo possível, tangível e existente.
Dava a ele a consciência pontual de objetos como mesas, livros e facas.
Concedia a ele o propósito encontrado em xícaras, casas, corais e no oxigênio.
Ao descreve-lo.
Ao defini-lo.
Encontrava-o.

Amar é uma seqüência infindável de paradoxos lógicos.
É importar-se com o que não tem importância.
Sonhar com essa pessoa, pensar em seu bem estar a cada segundo do dia, lutar para aprisiona-la e ao mesmo tempo lhe conceder liberdade. Lembrar de tentar beija-la no próximo sonho, porque pode ser sua única chance. É saber tudo o que você poderia tirar e ainda assim escolher a entrega.
É encontrar um sentido maior para o vazio que consome as suas tardes.
São versos soltos nas poesias, são corpos deitados lado a lado entrelaçados, como se nenhuma força no universo pudesse altera-los. Amor é a determinação e a fragilidade de escolher beijar sonhos.

Amor... é o que sinto e procuro assassinar todos os dias porque não quero mais crer.
Não quero mais esperar.
Amor... é não ter certeza se sempre vou estar aqui aguardando você chegar.
Ou se você vai realmente vir até onde estou.
Amor é desconhecer isso.
E mesmo assim.
Continuar a esperar e crer.

Então em determinado momento, após deixar isso tudo sair.
Todas essas palavras.
Ocorre o silêncio.
Sei toquei algo nessas pessoas que me ouviram, algo adormecido, quase morto.
Que deixa uma sensação de partes que estão sendo perdidas antes mesmo de existirem.
Algo lindo e triste.
Me calo durante algum segundo desse silêncio, quando termina procuro não pensar no que falei.

Fecho as janelas e portas. Volto para meu quarto escuro.
Onde permaneço sozinho.
Chorando baixo.
Para não ser ouvido.

Moacir Novaes.

Comentários

Zé Raimundo disse…
Moacir, não podemos ficar tanto tempo sem ler os seus textos, eles são bons demais! A poesia flui de cada frase numa abundância quase sufocante. A musicalidade e o ritmo são únicos. Percebo em seus textos a originalidade autoral que muitos procuram arduamente e que em você, surge numa espontaneidade rara de se ler.
Parabéns.