.
Fátima na cama em silêncio. Ela tem 14. Se esfrega preguiçosamente nos lençóis. O sol da tarde recortado incide sobre ela deitada, refletindo nos pêlos do braço. Ela observa os pêlos sob a luz.
(Voz feminina lá fora) – Fátima!
Ela escuta e levanta sem surpresa. Coloca o short e anda até a janela.
Cena 13
Fátima correndo de bicicleta. Vence morros e distâncias. Cruza a cidade, quando pára ofegante no alto de um morro.
Lá embaixo, Arthur espera sua vez para jogar taco. Ele a vê em parada em cima da bicicleta, recortada contra o céu. Olhando pro jogo. Ele acena. Ela hesita, mas retribui.
Arthur – Quer jogar?
Fátima (acena negativamente) – Brigada...
E sai pedalando. Arthur rebate a bolinha, e corre para cruzar os tacos.
Cena 14
Fátima e Arthur e um monte de livros abertos na cama.
Eles se esforçam para lê-los.
Arthur (aponta no livro) – Aqui, “Companhia das Índias Ocidentais”, era o nome da empresa que os holandeses tinham quando vieram colonizar o Brasil.
Fátima (se aproximando para ler) – Tá, aí eles vieram pra Pernambuco... Porque chamava Índias Ocidentais?
Arthur (virando-se para ela) – Sei lá! Acho que qualquer lugar que não fosse na Europa e eles achassem o povo burro chamavam de Índia!
Fátima (ri) – Teresópolis então ia ser a super Índia!
Arthur ri.
Fátima – Ia ser a capital... E qual era o nome do cara que veio fazer as coisas?
Arthur (toca o cabelo de Fátima, que continua lendo) – Maurício de Nassau.
Fátima (apontando no livro) – Isso! Ainda bem que ele não veio pra cá...
Arthur – Ele foi expulso...
Fátima – Sorte dele!
Arthur – É verdade.
E toca em seu rosto. Ela fecha os olhos e apóia a bochecha em sua mão. Quando os abre, Arthur a olha. Ele se aproxima, e ela fecha novamente os olhos. Eles se beijam.
Com verdadeira paixão, por quase meio minuto.
Cena 15
Toca Unchained Melody.
É Fátima que o coloca, no cd player, depois de sair do banho. Senta no sofá, com a toalha na cabeça. Deita a cabeça no encosto, abre seu diário e escreve nele deitada.
Do outro lado, Arthur vai até a janela do seu quarto e a fecha pelo lado de fora. Escreve algo no vidro, e depois dá uma baforada, onde se lê:
“Tô no posto te esperando” seguido de uma seta apontado para a direita. Ele checa as horas no relógio e anda naquela direção.
No sofá, Fátima fecha o diário e canta - errado - os últimos versos da música olhando para o vazio.
Cena 16
Arthur perambula pela frente da casa de Fátima. Sem ter certeza da sua presença, escala a sua janela.
Fátima, prostrada na cama, assusta-se com a sua visão.
Fátima (sussurrando com ódio) – O que você tá fazendo?!!
Arthur (pego de surpresa) – Eu só queria te ver.../
Fátima – Sai daqui!
Arthur - ... te liguei você não respondeu/
Fátima – Sai daqui! Você é louco?!
Arthur (perplexo) – Calma!...
Fátima – Entra idiota, vai ficar aí parado?!
Arthur termina de subir a janela.
Fátima (não se contendo) – Por causa daquele dia eu tirei 4! Eu repeti em história!
Arthur – Putz...
Fatima – Minha mãe tá puta! Eu nunca mais vou poder sair, acabou, eu nunca vou sair daqui – chora contorcendo seu rosto numa careta.
Arthur (aproximando-se) – Calma! É só uma prova...
Fátima (antes que ele a alcance) – Só uma prova o caralho! Eu quero ser alguém na vida, não sou igual você!
Arthur franze o cenho em desdém, mas a toma carinhosamente pelos braços. Ela tem as duas mãos cobrindo o rosto.
Arthur – Calma linda... É só uma matéria, eu te ajudo.
Fátima – Aham...
Arthur (carinhoso) – Ó, você nem tá chorando...
Fátima, num rompante, avança para socá-lo.
Arthur – Calma...
Fátima – Tira a mão de mim!!
E então começa a soluçar infantilmente, com as mãos cobrindo o rosto.
Arthur mantém distância, acuado. Ela grunhe caprichosamente. Então ele vai a ela novamente, e dessa vez ela o aceita e escora sua cabeça em seu abraço.
Arthur (afagando seus cabelos) – Não se preocupa linda... Vai dar tudo certo.
Fátima não responde.
Arthur – Deus tem um lugar pros repetentes...
E ela não consegue conter o riso. E olha pra ele.
Arthur – Eu te amo.
Fátima – Vai embora, vai... Minha mãe tá aqui.
Arthur – Vou...
E eles se beijam.
Fátima – Vai embora.
Arthur – Tchau... – e repentinamente, como se desse conta da situação, vai apressado até a janela. Sobe no parapeito.
Arthur – Eu te amo.
Fátima (sincera) – Eu também.
E ele vai.
Fátima fica olhando a rua silenciosa pela moldura da janela. Testa seu hálito com a mão em concha.
Tira o caderno aberto do meio dos lençóis. Volta à posição inerte do começo, quando se inspira e se debruça sobre a página. Escreve:
“Eu acredito em destino
em distâncias sobrepostas
e pessoas se encontrando do nada
Por que não dizemos pras pessoas quando vamos deixá-las?”
.
Fátima na cama em silêncio. Ela tem 14. Se esfrega preguiçosamente nos lençóis. O sol da tarde recortado incide sobre ela deitada, refletindo nos pêlos do braço. Ela observa os pêlos sob a luz.
(Voz feminina lá fora) – Fátima!
Ela escuta e levanta sem surpresa. Coloca o short e anda até a janela.
Cena 13
Fátima correndo de bicicleta. Vence morros e distâncias. Cruza a cidade, quando pára ofegante no alto de um morro.
Lá embaixo, Arthur espera sua vez para jogar taco. Ele a vê em parada em cima da bicicleta, recortada contra o céu. Olhando pro jogo. Ele acena. Ela hesita, mas retribui.
Arthur – Quer jogar?
Fátima (acena negativamente) – Brigada...
E sai pedalando. Arthur rebate a bolinha, e corre para cruzar os tacos.
Cena 14
Fátima e Arthur e um monte de livros abertos na cama.
Eles se esforçam para lê-los.
Arthur (aponta no livro) – Aqui, “Companhia das Índias Ocidentais”, era o nome da empresa que os holandeses tinham quando vieram colonizar o Brasil.
Fátima (se aproximando para ler) – Tá, aí eles vieram pra Pernambuco... Porque chamava Índias Ocidentais?
Arthur (virando-se para ela) – Sei lá! Acho que qualquer lugar que não fosse na Europa e eles achassem o povo burro chamavam de Índia!
Fátima (ri) – Teresópolis então ia ser a super Índia!
Arthur ri.
Fátima – Ia ser a capital... E qual era o nome do cara que veio fazer as coisas?
Arthur (toca o cabelo de Fátima, que continua lendo) – Maurício de Nassau.
Fátima (apontando no livro) – Isso! Ainda bem que ele não veio pra cá...
Arthur – Ele foi expulso...
Fátima – Sorte dele!
Arthur – É verdade.
E toca em seu rosto. Ela fecha os olhos e apóia a bochecha em sua mão. Quando os abre, Arthur a olha. Ele se aproxima, e ela fecha novamente os olhos. Eles se beijam.
Com verdadeira paixão, por quase meio minuto.
Cena 15
Toca Unchained Melody.
É Fátima que o coloca, no cd player, depois de sair do banho. Senta no sofá, com a toalha na cabeça. Deita a cabeça no encosto, abre seu diário e escreve nele deitada.
Do outro lado, Arthur vai até a janela do seu quarto e a fecha pelo lado de fora. Escreve algo no vidro, e depois dá uma baforada, onde se lê:
“Tô no posto te esperando” seguido de uma seta apontado para a direita. Ele checa as horas no relógio e anda naquela direção.
No sofá, Fátima fecha o diário e canta - errado - os últimos versos da música olhando para o vazio.
Cena 16
Arthur perambula pela frente da casa de Fátima. Sem ter certeza da sua presença, escala a sua janela.
Fátima, prostrada na cama, assusta-se com a sua visão.
Fátima (sussurrando com ódio) – O que você tá fazendo?!!
Arthur (pego de surpresa) – Eu só queria te ver.../
Fátima – Sai daqui!
Arthur - ... te liguei você não respondeu/
Fátima – Sai daqui! Você é louco?!
Arthur (perplexo) – Calma!...
Fátima – Entra idiota, vai ficar aí parado?!
Arthur termina de subir a janela.
Fátima (não se contendo) – Por causa daquele dia eu tirei 4! Eu repeti em história!
Arthur – Putz...
Fatima – Minha mãe tá puta! Eu nunca mais vou poder sair, acabou, eu nunca vou sair daqui – chora contorcendo seu rosto numa careta.
Arthur (aproximando-se) – Calma! É só uma prova...
Fátima (antes que ele a alcance) – Só uma prova o caralho! Eu quero ser alguém na vida, não sou igual você!
Arthur franze o cenho em desdém, mas a toma carinhosamente pelos braços. Ela tem as duas mãos cobrindo o rosto.
Arthur – Calma linda... É só uma matéria, eu te ajudo.
Fátima – Aham...
Arthur (carinhoso) – Ó, você nem tá chorando...
Fátima, num rompante, avança para socá-lo.
Arthur – Calma...
Fátima – Tira a mão de mim!!
E então começa a soluçar infantilmente, com as mãos cobrindo o rosto.
Arthur mantém distância, acuado. Ela grunhe caprichosamente. Então ele vai a ela novamente, e dessa vez ela o aceita e escora sua cabeça em seu abraço.
Arthur (afagando seus cabelos) – Não se preocupa linda... Vai dar tudo certo.
Fátima não responde.
Arthur – Deus tem um lugar pros repetentes...
E ela não consegue conter o riso. E olha pra ele.
Arthur – Eu te amo.
Fátima – Vai embora, vai... Minha mãe tá aqui.
Arthur – Vou...
E eles se beijam.
Fátima – Vai embora.
Arthur – Tchau... – e repentinamente, como se desse conta da situação, vai apressado até a janela. Sobe no parapeito.
Arthur – Eu te amo.
Fátima (sincera) – Eu também.
E ele vai.
Fátima fica olhando a rua silenciosa pela moldura da janela. Testa seu hálito com a mão em concha.
Tira o caderno aberto do meio dos lençóis. Volta à posição inerte do começo, quando se inspira e se debruça sobre a página. Escreve:
“Eu acredito em destino
em distâncias sobrepostas
e pessoas se encontrando do nada
Por que não dizemos pras pessoas quando vamos deixá-las?”
.
Comentários