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Amanhece e a mãe de Fátima dobra roupas em cima do sofá.
Fátima abre a porta, coçando o olho.
Fátima – Bom dia!
E nota quando sua mãe vira-se para ela, cheia de piedade.
Fátima – Que foi mãe?
Mãe – Ah, minha filha...
Ela tenta abraçar Fátima, que se desvencilha.
Fátima – Que aconteceu?!
Ela aponta prum envelope equilibrado em cima do sofá e leva-o para a filha.
Mãe – Aquele menino, o Arthur, veio aqui te entregar isso. Eles tão se mudando hoje, e ele queria te entregar essas coisas...
Fátima (sem abrir o envelope) – Quando ele veio aqui?
Mãe – Hoje, bem cedinho. Ele não queria incomodar.
Fátima segura o envelope com as duas mãos e por um momento não sabe pra onde ir. Hesita, volta-se em direção ao quarto, mas desiste.
Mãe – Ah filha... Eu falei pra você...
É quando ela solta o envelope e sai pela porta. Primeiro, andando, depois correndo. Sobe na bicicleta. E pedala em direção à casa de Arthur. Com a respiração alta, ela cruza a cidade o mais rápido que pode.
Até que chega à casa de Arthur. Salta da bicicleta e corre para a janela.
Fátima – Arthur!
Lá dentro, os móveis cobertos por lençóis. Ela dá uma volta na casa, como se o procurasse escondido. Ela não acredita no que vê.
Começa então a perder o ar. Volta a se debruçar na janela com as mãos em concha contra o vidro, e só então parece perceber. A casa está vazia. Deixa escapar um suspiro. Ao respirar junto ao vidro, forma-se uma palavra na transparência embaçada.
“Tchau”
Ela prende a respiração. Rapidamente expira no quadradinho de vidro ao lado.
“Desculpa. Eu te amo”
É então que ela percebe que ele tinha ido embora.
Segura o estômago, sufocando violentamente, como se uma dor aguda transtornasse seu rosto numa careta. E chora, sem conseguir respirar, como uma criança chora desesperada, mas quieta. Tenta rezar.
Tanto os urros ocasionais quando a queda no chão e o jeito de cobrir os olhos com as mãos parecem rigorosamente desajeitados, por ser essa a maior dor que já sentira até então.
Cena 18
Arthur leva o lenço à boca. Por um momento perdido no quarto, se recompõe e põe o lenço no bolso. Tira o gravador e liga.
Arthur – Apesar da artificialidade que se instaurou entre nós na época, e de eu não acreditar em Deus como você, se fosse Deus teria feito você exatamente daquele jeito, sem nenhuma diferença.
Se arrepende de ter gravado aquilo, guarda o gravador. Anda até a sala sem olhar pra trás.
A mãe de Fátima está sentada na poltrona de olhos abertos. Arthur não é notado, e trata de esconder rapidamente o diário debaixo da camisa. Esgueira-se para a porta, tentando não ser notado.
Mãe (virando-se) – Oi... Achei a caixa...
Arthur muda a direção dos passos, como se estivesse indo até ela desde sempre.
Mãe (que traz a caixa no colo) – É essa aqui?
Arthur inclina-se e toma a caixa nas mãos. A mãe de Fátima suspira por um segundo, como se algo tivesse sendo tirado dela. Faz menção a retê-la, mas desiste.
Arthur assente afirmativamente.
Arthur (balbucia) – Brigado.
E antes que ela possa reagir, agarra a caixa e desliza apressadamente em direção à porta.
Mãe (olhando para o vazio) – Eu sei que eu fiz tudo errado...
Arthur se detém, já fora do campo de visão.
Mãe - O problema das mulheres da minha laia é que elas têm útero.
Arthur assente novamente. E vira-se.
Quando a mãe de Fátima volta-se para pedir um último favor, ele já se fora.
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Amanhece e a mãe de Fátima dobra roupas em cima do sofá.
Fátima abre a porta, coçando o olho.
Fátima – Bom dia!
E nota quando sua mãe vira-se para ela, cheia de piedade.
Fátima – Que foi mãe?
Mãe – Ah, minha filha...
Ela tenta abraçar Fátima, que se desvencilha.
Fátima – Que aconteceu?!
Ela aponta prum envelope equilibrado em cima do sofá e leva-o para a filha.
Mãe – Aquele menino, o Arthur, veio aqui te entregar isso. Eles tão se mudando hoje, e ele queria te entregar essas coisas...
Fátima (sem abrir o envelope) – Quando ele veio aqui?
Mãe – Hoje, bem cedinho. Ele não queria incomodar.
Fátima segura o envelope com as duas mãos e por um momento não sabe pra onde ir. Hesita, volta-se em direção ao quarto, mas desiste.
Mãe – Ah filha... Eu falei pra você...
É quando ela solta o envelope e sai pela porta. Primeiro, andando, depois correndo. Sobe na bicicleta. E pedala em direção à casa de Arthur. Com a respiração alta, ela cruza a cidade o mais rápido que pode.
Até que chega à casa de Arthur. Salta da bicicleta e corre para a janela.
Fátima – Arthur!
Lá dentro, os móveis cobertos por lençóis. Ela dá uma volta na casa, como se o procurasse escondido. Ela não acredita no que vê.
Começa então a perder o ar. Volta a se debruçar na janela com as mãos em concha contra o vidro, e só então parece perceber. A casa está vazia. Deixa escapar um suspiro. Ao respirar junto ao vidro, forma-se uma palavra na transparência embaçada.
“Tchau”
Ela prende a respiração. Rapidamente expira no quadradinho de vidro ao lado.
“Desculpa. Eu te amo”
É então que ela percebe que ele tinha ido embora.
Segura o estômago, sufocando violentamente, como se uma dor aguda transtornasse seu rosto numa careta. E chora, sem conseguir respirar, como uma criança chora desesperada, mas quieta. Tenta rezar.
Tanto os urros ocasionais quando a queda no chão e o jeito de cobrir os olhos com as mãos parecem rigorosamente desajeitados, por ser essa a maior dor que já sentira até então.
Cena 18
Arthur leva o lenço à boca. Por um momento perdido no quarto, se recompõe e põe o lenço no bolso. Tira o gravador e liga.
Arthur – Apesar da artificialidade que se instaurou entre nós na época, e de eu não acreditar em Deus como você, se fosse Deus teria feito você exatamente daquele jeito, sem nenhuma diferença.
Se arrepende de ter gravado aquilo, guarda o gravador. Anda até a sala sem olhar pra trás.
A mãe de Fátima está sentada na poltrona de olhos abertos. Arthur não é notado, e trata de esconder rapidamente o diário debaixo da camisa. Esgueira-se para a porta, tentando não ser notado.
Mãe (virando-se) – Oi... Achei a caixa...
Arthur muda a direção dos passos, como se estivesse indo até ela desde sempre.
Mãe (que traz a caixa no colo) – É essa aqui?
Arthur inclina-se e toma a caixa nas mãos. A mãe de Fátima suspira por um segundo, como se algo tivesse sendo tirado dela. Faz menção a retê-la, mas desiste.
Arthur assente afirmativamente.
Arthur (balbucia) – Brigado.
E antes que ela possa reagir, agarra a caixa e desliza apressadamente em direção à porta.
Mãe (olhando para o vazio) – Eu sei que eu fiz tudo errado...
Arthur se detém, já fora do campo de visão.
Mãe - O problema das mulheres da minha laia é que elas têm útero.
Arthur assente novamente. E vira-se.
Quando a mãe de Fátima volta-se para pedir um último favor, ele já se fora.
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