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A luz giratória dos carros de polícia varre o escuro de vermelho.
As luzes se acendem. Um corpo nu de mulher jaz ensangüentado num embrulho de plástico. Seus cabelos loiros secos com o sangue encobrem o rosto.
Ao redor, dois policiais trabalham. Um tira fotos. O outro toma notas num bloco de papel. Roberto está ao seu lado, e conversa com ele. O policial lhe passa um celular num saco plástico. Roberto checa o celular e assente com a cabeça.
Ele se afasta enquanto os policiais rondam ao redor do corpo e tira o seu celular do bolso.
Roberto – Arthur? Eu tô aqui ao lado da última vítima do Tubarão da Dutra. Tá fresca ainda, a testemunha disse que o viu há menos de vinte minutos. A polícia cercou a área, devem estar pegando ele nas próximas horas. Tô com o celular já, da outra vítima, foi oitocentos reais... Vai ser o crime do século, cara!... Me liga assim que pegar essa mensagem, tem outra coisa que preciso falar com você... Um abraço.
E desliga.
Cena 20
Na sala da mãe de Fátima, dois policiais se sentam de costas para a platéia.
Mãe – Tá com muito açúcar?
Policial – Não, tá ótimo.
Mãe – Bom... (inspira) – Nessas cidades levam anos pra descobrir quando você é uma vagabunda... Porque você toma cuidado... Esse é o tipo de coisa que se esconde... E quando descobrem, não tem jeito, você tem que ir embora pra outra.
Mas a Fátima não... Em pouco tempo todo mundo já falava... Ela era uma menina desastrada. Ela sempre teve aquela falta de jeito das putas, que mal tocam o afeto e já o perdem. Acho que ela nem sabia que era uma vagabunda...
(silêncio)
Mãe (fazendo menção de levantar-se) – Vocês querem ouvir música?
Policia – Não, brigado, tá ótimo... A senhora... A senhora reconhece esse homem aqui?
E estende uma foto a ela, que reage embasbacada.
Mãe – Ele tava aqui agora pouco!
Cena 21
Fátima entra apressada. Fecha a porta atrás dela e joga a bolsa na cama. Senta ajeitando o vestido e ajeita o cabelo, como se alguém fosse entrar a qualquer momento.
Sua mãe abre a porta.
Fátima – Oi mãe.
Mãe – Fátima?
Fátima – Oi...
Mãe – Onde você tava?
Fátima – Eu fui na festa da Isabela. De aniversário?
Mãe – Aniversário?
Fátima – Aniversário da Isabela, na casa dela... Eu te falei, lembra?!
Mãe – Não...
Fátima – Ô mãe, eu tô falando dessa festa desde a semana passada...
Mãe – Não lembro... Mas e aí, foi legal, se divertiram?
Fátima – Ai mãe, foi ótimo... Tava todo mundo da classe... A Isabela tava tão linda!
Mãe – Que bom filha...
Fátima – Foi muito bom...
Mãe – Que bom... Me lembra amanhã, eu preciso que você vá até a cidade pagar uma conta pra mim no Bradesco.
Fátima – Tá...
Mãe – Tá em cima da mesa, amanhã me lembra de deixar o dinheiro.
Fátima – Tá bom, mãe. Pode deixar que eu lembro.
Mãe – E de resto, tudo bem?
Fátima – Tudo, tudo ótimo... Tô cansada só...
Mãe – Eu imagino... Descansa então filha, também vou dormir. Boa noite.
Fátima – Boa noite mãe, dorme com Deus.
Mãe – Até amanhã...
E fecha a porta com delicadeza. Na cama, Fátima continua virada para a porta, como se a mãe ainda estivesse lá.
Abre o fecho do vestido, de ponta a ponta, e deixa que ele caia desnudando suas costas brancas, sulcadas por horríveis cicatrizes ainda úmidas.
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A luz giratória dos carros de polícia varre o escuro de vermelho.
As luzes se acendem. Um corpo nu de mulher jaz ensangüentado num embrulho de plástico. Seus cabelos loiros secos com o sangue encobrem o rosto.
Ao redor, dois policiais trabalham. Um tira fotos. O outro toma notas num bloco de papel. Roberto está ao seu lado, e conversa com ele. O policial lhe passa um celular num saco plástico. Roberto checa o celular e assente com a cabeça.
Ele se afasta enquanto os policiais rondam ao redor do corpo e tira o seu celular do bolso.
Roberto – Arthur? Eu tô aqui ao lado da última vítima do Tubarão da Dutra. Tá fresca ainda, a testemunha disse que o viu há menos de vinte minutos. A polícia cercou a área, devem estar pegando ele nas próximas horas. Tô com o celular já, da outra vítima, foi oitocentos reais... Vai ser o crime do século, cara!... Me liga assim que pegar essa mensagem, tem outra coisa que preciso falar com você... Um abraço.
E desliga.
Cena 20
Na sala da mãe de Fátima, dois policiais se sentam de costas para a platéia.
Mãe – Tá com muito açúcar?
Policial – Não, tá ótimo.
Mãe – Bom... (inspira) – Nessas cidades levam anos pra descobrir quando você é uma vagabunda... Porque você toma cuidado... Esse é o tipo de coisa que se esconde... E quando descobrem, não tem jeito, você tem que ir embora pra outra.
Mas a Fátima não... Em pouco tempo todo mundo já falava... Ela era uma menina desastrada. Ela sempre teve aquela falta de jeito das putas, que mal tocam o afeto e já o perdem. Acho que ela nem sabia que era uma vagabunda...
(silêncio)
Mãe (fazendo menção de levantar-se) – Vocês querem ouvir música?
Policia – Não, brigado, tá ótimo... A senhora... A senhora reconhece esse homem aqui?
E estende uma foto a ela, que reage embasbacada.
Mãe – Ele tava aqui agora pouco!
Cena 21
Fátima entra apressada. Fecha a porta atrás dela e joga a bolsa na cama. Senta ajeitando o vestido e ajeita o cabelo, como se alguém fosse entrar a qualquer momento.
Sua mãe abre a porta.
Fátima – Oi mãe.
Mãe – Fátima?
Fátima – Oi...
Mãe – Onde você tava?
Fátima – Eu fui na festa da Isabela. De aniversário?
Mãe – Aniversário?
Fátima – Aniversário da Isabela, na casa dela... Eu te falei, lembra?!
Mãe – Não...
Fátima – Ô mãe, eu tô falando dessa festa desde a semana passada...
Mãe – Não lembro... Mas e aí, foi legal, se divertiram?
Fátima – Ai mãe, foi ótimo... Tava todo mundo da classe... A Isabela tava tão linda!
Mãe – Que bom filha...
Fátima – Foi muito bom...
Mãe – Que bom... Me lembra amanhã, eu preciso que você vá até a cidade pagar uma conta pra mim no Bradesco.
Fátima – Tá...
Mãe – Tá em cima da mesa, amanhã me lembra de deixar o dinheiro.
Fátima – Tá bom, mãe. Pode deixar que eu lembro.
Mãe – E de resto, tudo bem?
Fátima – Tudo, tudo ótimo... Tô cansada só...
Mãe – Eu imagino... Descansa então filha, também vou dormir. Boa noite.
Fátima – Boa noite mãe, dorme com Deus.
Mãe – Até amanhã...
E fecha a porta com delicadeza. Na cama, Fátima continua virada para a porta, como se a mãe ainda estivesse lá.
Abre o fecho do vestido, de ponta a ponta, e deixa que ele caia desnudando suas costas brancas, sulcadas por horríveis cicatrizes ainda úmidas.
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