.
Arthur lê em voz alta lá fora.
Arthur – “Estou na parada do ônibus”...
Entra Fátima, do outro lado do palco. Ela repete suas próprias palavras. As vozes se sobrepõe.
Arthur e Fátima – “É a primeira vez que cruzo o estado e não tenho ninguém pra contar. Tentei ligar pro Renato, mas esse número de telefone não existe. Tô com medo...
Fátima (só) - ... mas tô feliz. Vai dar tudo certo”.
Ela desaparece. Arthur vira a página.
Arthur – “Espero que esteja tudo bem e tranqüilo aí onde você está”
Ele suspira. Vira mais e mais páginas. Pára numa que salta por trazer algo dentro. É uma colagem, tirada de uma revista, que Arthur abre como se fosse um pôster de revista masculina.
Arthur – “Inspire-se nas passarelas para se vestir bem no primeiro emprego”
Ele lê o encarte por um segundo, em silêncio.
Arthur – Meu deus (ri amargurado). Só os piores conselhos! (e leva a mão à boca).
Letícia (saindo pela porta) – Arthur?
Arthur (fechando o diário) – Hum?
Letícia – Onde você tá?
Arthur – Eu tô aqui quieto.
Letícia – Vem pra dentro. Já disse que você pode fumar aqui, eu não ligo.
Arthur – Já vou...
Ele entra logo depois. Letícia sentada na beira da cama.
Letícia – O que vocês vão fazer agora? Do isqueiro...
Arthur – A gente pode encarar o julgamento. Não somos oficialmente fugitivos ainda, posso me apresentar... Mas não sei.
Letícia – E a empresa?
Arthur – Vou parar... Aconteça o que acontecer. Foi isso que eu percebi aqui... Seu eu escapar, vou começar do zero, fazer algo que acrescente à vida das pessoas, não ganhar dinheiro em cima do vazio da vida delas. Isso é inútil... Viver de besteiras...
Letícia (com medo de parecer burra) – Entendi...
Arthur – Algumas pessoas não têm onde cair mortas e dão tudo o que elas têm por um pedaço de vidro ou uma foto velha... Acho isso deprimente!
Letícia (ri) – Os ricos sempre têm uma idéia melhor sobre o que a gente devia fazer com o nosso próprio dinheiro. Não acho deprimente.
Arthur – Tá, mas mesmo as que são ricas e podem pagar... Acho triste que as pessoas se apeguem tanto a algumas coisas em vez de viver a vida.
Letícia (para si mesma) – Um dia fui num show que eu não podia ir e passei o resto do mês sem dinheiro para ir na esquina. E quando era sábado à noite eu ficava em casa lembrando do show, cena por cena, de cada música. Ainda lembro. (vira-se pra ele) – Não acho besteira.
Arthur – Não, cê tá certa, não é besteira!
E vira o rosto.
Letícia – O que que foi, Arthur?!
Arthur – Eu vim aqui porque eu queria saber dela, mas ela não tá mais aqui! Fui na casa dela, passei pelos lugares... Achei que ia recuperar lendo o diário, mas não! Eu li tudo, mas ela não era assim...
Letícia – O diário?
Arthur – O diário dela, esse aqui! Mas ela não tá aqui! E nem poderia... Claro que não!
Letícia o abraça.
Arthur – Nós não somos o que a gente escreve! Nós não somos o que aconteceu com a gente! Nem o que a gente faz, nem o que a gente pensa. Nem o que a gente gosta! Nós não somos o lugar que a gente viveu. Nem o que a gente ganha. Nem o que a gente vai ser. A gente não é nem os sonhos que a gente teve!
Letícia abre a boca mas não termina o que ia dizer.
Arthur – Eu nunca mais vou ter ela! Não adianta. Eu perdi ela aqui e ela não volta mais!
Letícia o cala em seu ombro. Os dois ficam abraçados.
Toca “I am the highway”
E continuam abraçados.
Até Arthur se soltar de seus braços. Anda até o banheiro.
Enquanto ele vai, Letícia puxa o lençol e começa a desabotoar a blusa.
No banheiro, ele se inclina sobre a pia, abre a torneira e deixa a água correr pela nuca.
Letícia – Foi impressionante perceber que quando a Fátima sumiu, a graça da vida sumiu um pouco com ela...
Ele fecha a torneira e vê seu rosto no espelho.
Letícia tira a calça debaixo do lençol.
Letícia – Ninguém falava com a paixão que ela falava...
Abre o soutien e se encolhe.
Letícia – Mas acho que tudo já foi dito a respeito da Fátima.
Termina de deitar e se cobre.
Arthur sai do espelho e caminha em direção à porta. Atrás da porta, o quarto. Mas antes, as luzes se apagam.
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Arthur lê em voz alta lá fora.
Arthur – “Estou na parada do ônibus”...
Entra Fátima, do outro lado do palco. Ela repete suas próprias palavras. As vozes se sobrepõe.
Arthur e Fátima – “É a primeira vez que cruzo o estado e não tenho ninguém pra contar. Tentei ligar pro Renato, mas esse número de telefone não existe. Tô com medo...
Fátima (só) - ... mas tô feliz. Vai dar tudo certo”.
Ela desaparece. Arthur vira a página.
Arthur – “Espero que esteja tudo bem e tranqüilo aí onde você está”
Ele suspira. Vira mais e mais páginas. Pára numa que salta por trazer algo dentro. É uma colagem, tirada de uma revista, que Arthur abre como se fosse um pôster de revista masculina.
Arthur – “Inspire-se nas passarelas para se vestir bem no primeiro emprego”
Ele lê o encarte por um segundo, em silêncio.
Arthur – Meu deus (ri amargurado). Só os piores conselhos! (e leva a mão à boca).
Letícia (saindo pela porta) – Arthur?
Arthur (fechando o diário) – Hum?
Letícia – Onde você tá?
Arthur – Eu tô aqui quieto.
Letícia – Vem pra dentro. Já disse que você pode fumar aqui, eu não ligo.
Arthur – Já vou...
Ele entra logo depois. Letícia sentada na beira da cama.
Letícia – O que vocês vão fazer agora? Do isqueiro...
Arthur – A gente pode encarar o julgamento. Não somos oficialmente fugitivos ainda, posso me apresentar... Mas não sei.
Letícia – E a empresa?
Arthur – Vou parar... Aconteça o que acontecer. Foi isso que eu percebi aqui... Seu eu escapar, vou começar do zero, fazer algo que acrescente à vida das pessoas, não ganhar dinheiro em cima do vazio da vida delas. Isso é inútil... Viver de besteiras...
Letícia (com medo de parecer burra) – Entendi...
Arthur – Algumas pessoas não têm onde cair mortas e dão tudo o que elas têm por um pedaço de vidro ou uma foto velha... Acho isso deprimente!
Letícia (ri) – Os ricos sempre têm uma idéia melhor sobre o que a gente devia fazer com o nosso próprio dinheiro. Não acho deprimente.
Arthur – Tá, mas mesmo as que são ricas e podem pagar... Acho triste que as pessoas se apeguem tanto a algumas coisas em vez de viver a vida.
Letícia (para si mesma) – Um dia fui num show que eu não podia ir e passei o resto do mês sem dinheiro para ir na esquina. E quando era sábado à noite eu ficava em casa lembrando do show, cena por cena, de cada música. Ainda lembro. (vira-se pra ele) – Não acho besteira.
Arthur – Não, cê tá certa, não é besteira!
E vira o rosto.
Letícia – O que que foi, Arthur?!
Arthur – Eu vim aqui porque eu queria saber dela, mas ela não tá mais aqui! Fui na casa dela, passei pelos lugares... Achei que ia recuperar lendo o diário, mas não! Eu li tudo, mas ela não era assim...
Letícia – O diário?
Arthur – O diário dela, esse aqui! Mas ela não tá aqui! E nem poderia... Claro que não!
Letícia o abraça.
Arthur – Nós não somos o que a gente escreve! Nós não somos o que aconteceu com a gente! Nem o que a gente faz, nem o que a gente pensa. Nem o que a gente gosta! Nós não somos o lugar que a gente viveu. Nem o que a gente ganha. Nem o que a gente vai ser. A gente não é nem os sonhos que a gente teve!
Letícia abre a boca mas não termina o que ia dizer.
Arthur – Eu nunca mais vou ter ela! Não adianta. Eu perdi ela aqui e ela não volta mais!
Letícia o cala em seu ombro. Os dois ficam abraçados.
Toca “I am the highway”
E continuam abraçados.
Até Arthur se soltar de seus braços. Anda até o banheiro.
Enquanto ele vai, Letícia puxa o lençol e começa a desabotoar a blusa.
No banheiro, ele se inclina sobre a pia, abre a torneira e deixa a água correr pela nuca.
Letícia – Foi impressionante perceber que quando a Fátima sumiu, a graça da vida sumiu um pouco com ela...
Ele fecha a torneira e vê seu rosto no espelho.
Letícia tira a calça debaixo do lençol.
Letícia – Ninguém falava com a paixão que ela falava...
Abre o soutien e se encolhe.
Letícia – Mas acho que tudo já foi dito a respeito da Fátima.
Termina de deitar e se cobre.
Arthur sai do espelho e caminha em direção à porta. Atrás da porta, o quarto. Mas antes, as luzes se apagam.
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