As luzes se acendem. Letícia, vestida impecavelmente, bate à porta.
Arthur – Entra
Letícia – Com licença – Entra sorrateira e aponta para ele – Arthur?
Arthur – Isso – Se levanta para cumprimenta-la – Letícia?
Letícia – Nossa, como é difícil falar com você?
Arthur – É...Tamo na maior correria aqui, fechando o anuário – aponta para a pilha embalada.
Letícia – Ah...nossa – Põe a mão sobre uma das embalagens – Tudo isso?
Arthur – É que a gráfica só faz de mil em mil...na verdade aproveitamos um pouco mais de (só uns) cinqüentas.
Letícia – Nossa, e o que acontece (vocês fazem) com o resto?
Arthur – Vai pro incinerador...
Letícia – Entendo. - diz ela pegando um exemplar avulso.
Arthur – É que nossos clientes são bem, exclusivos. Manter o segredo faz parte do negócio.
Letícia – Ah, entendo – sorri sem jeito, devolvendo o exemplar a mesa.
Arthur – É um catálogo de todas essas pequenas peças que encontramos durante o ano... mas pra colecionadores...especiais.
Letícia assente, como se entendesse.
Arthur – Por exemplo, vamos supor que o Collor tivesse morrido: o lenço que estava com o presidente no dia da votação do Impeachment. O bilhete de renúncia do Jânio...O lençol, a corda ou o que quer que tenha enforcado o Herzog... O capacete quebrado do Sena, tudo isso são relíquias, objetos que estiveram presentes, ou fizeram parte, cada um à sua maneira, de grandes momentos da história. E nós temos alguns desses no nosso anuário, mas não é isso o que fazemos.
Letícia – E o que vocês fazem?
Arthur – Nós trabalhamos mais com “relíquias” íntimas. São pequenos objetos anônimos, sem nenhum valor histórico, mas que carregam uma forte carga emocional para alguém. E quando mais desconhecida a pessoa, mais valor ela tem.
Letícia – É isso!
Arthur – Como eu disse, são itens para colecionadores sensíveis, e muito discretos, que se interessam mais pela intensidade e exclusividade do que pelo valor histórico.
Letícia – Por que alguém gastaria essa grana toda por alguma coisa que nem lhe diz respeito?
Arthur – Fetiche...Por que alguém paga 80 milhões num quadro? De quem quer que seja...
Letícia – Desculpa, eu pensei que vocês achavam coisas perdidas pros outros...
Arthur – Não, mas esse é um dos nossos serviços! Nós também procuramos objetos pessoais por encomenda.
Letícia – E quanto sairia isso?
Arthur – Depende... Do objeto... Da distância de onde ele pode estar...Uma cidade, mais de uma cidade... De quanto tempo faz que ele se perdeu...
Letícia ri, não consegue evitar que uma lagrima role.
Letícia – Desculpa.
Arthur – Tudo bem...(exageradamente compreensivo). Olha, por uma ironia, a maior parte das pessoas que nos procuram são pobres.
Arthur – Entra
Letícia – Com licença – Entra sorrateira e aponta para ele – Arthur?
Arthur – Isso – Se levanta para cumprimenta-la – Letícia?
Letícia – Nossa, como é difícil falar com você?
Arthur – É...Tamo na maior correria aqui, fechando o anuário – aponta para a pilha embalada.
Letícia – Ah...nossa – Põe a mão sobre uma das embalagens – Tudo isso?
Arthur – É que a gráfica só faz de mil em mil...na verdade aproveitamos um pouco mais de (só uns) cinqüentas.
Letícia – Nossa, e o que acontece (vocês fazem) com o resto?
Arthur – Vai pro incinerador...
Letícia – Entendo. - diz ela pegando um exemplar avulso.
Arthur – É que nossos clientes são bem, exclusivos. Manter o segredo faz parte do negócio.
Letícia – Ah, entendo – sorri sem jeito, devolvendo o exemplar a mesa.
Arthur – É um catálogo de todas essas pequenas peças que encontramos durante o ano... mas pra colecionadores...especiais.
Letícia assente, como se entendesse.
Arthur – Por exemplo, vamos supor que o Collor tivesse morrido: o lenço que estava com o presidente no dia da votação do Impeachment. O bilhete de renúncia do Jânio...O lençol, a corda ou o que quer que tenha enforcado o Herzog... O capacete quebrado do Sena, tudo isso são relíquias, objetos que estiveram presentes, ou fizeram parte, cada um à sua maneira, de grandes momentos da história. E nós temos alguns desses no nosso anuário, mas não é isso o que fazemos.
Letícia – E o que vocês fazem?
Arthur – Nós trabalhamos mais com “relíquias” íntimas. São pequenos objetos anônimos, sem nenhum valor histórico, mas que carregam uma forte carga emocional para alguém. E quando mais desconhecida a pessoa, mais valor ela tem.
Letícia – É isso!
Arthur – Como eu disse, são itens para colecionadores sensíveis, e muito discretos, que se interessam mais pela intensidade e exclusividade do que pelo valor histórico.
Letícia – Por que alguém gastaria essa grana toda por alguma coisa que nem lhe diz respeito?
Arthur – Fetiche...Por que alguém paga 80 milhões num quadro? De quem quer que seja...
Letícia – Desculpa, eu pensei que vocês achavam coisas perdidas pros outros...
Arthur – Não, mas esse é um dos nossos serviços! Nós também procuramos objetos pessoais por encomenda.
Letícia – E quanto sairia isso?
Arthur – Depende... Do objeto... Da distância de onde ele pode estar...Uma cidade, mais de uma cidade... De quanto tempo faz que ele se perdeu...
Letícia ri, não consegue evitar que uma lagrima role.
Letícia – Desculpa.
Arthur – Tudo bem...(exageradamente compreensivo). Olha, por uma ironia, a maior parte das pessoas que nos procuram são pobres.
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