
Não, não são as solas dos meus sapatos
gastas de irem a lugar algum
nem sequer os dias do calendário
que não se cansam de passar imutáveis…
não é também a face apática de cada pessoa
que tenho que cruzar o caminho
não é nada disso!
mas os horizontes cinzas
que me esperam
as jaulas de ouro e diamantes
nas quais me encerram
a vida perfeita
que criaram pra mim
Do ponto onde me encontro
nem mais me vejo
o espelho que olho
não me reflete mais nada
nem sequer minha sombra
me acompanha mais
fujo de mim mesma
numa rota aletória
pra não encontrar o caminho de volta
contudo sempre me persigo
seja na montanha ou no fundo do abismo
lá estou eu junto comigo
Eu que nem tenho a idéia da minha exata medida
eu que já tentei ser quem não era
eu que já fui quem não quis ser
hoje tenho certeza de que não preciso ser nada
estou como estou e nada mais importa
não quero me fazer ser alguém
pra ser aceito como não sou
é sempre tão difícil segurar as máscaras,
e nesse grande baile de carnaval
dançamos todos
Não quero mais olhar pra fotos
a verdade está no desenrolar do filme
o estar é fugidio e efêmero
marca apenas um momento
que se pode medir
nele não existem porquês
mas há regras pra tudo
o porquê vem do ser
do registro de todo
o caos que é perpétuo e imanente
que marca as solas do sapato cinzas
as folhas do calendário de ouro e diamantes
e as faces apáticas perfeitas…
Nannda
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