Antes de entrar no televador, verifique se 'o mesmo' encontra-se parado neste andar"...
ou...
Tanto faz porque tá tudo bem...
Era como se tivesse acordado com um travesti do meu lado, mas eu também era o travesti...Talvez não seja nada disso, só seja culpa por errar mais uma vez.Depois de uns dias e uns chocolates até o erro fica bom, depois de tantos erros você até se acostuma e aí é que dá medo.Depois você consegue fingir melhor que não, dessa vez, e de novo, o problema não era você, porque você já sabia, porque você não queria... Queria o que mesmo? Aliás, não queria o que mesmo? É, acho que é isso, só não queria o mesmo, porque o mesmo eu já conheço, do mesmo eu já tô cheia! Desse mesmo eu quero distância, cada vez mais até não lembrar nem por fotografia, muito menos em outros mesmos. Mas essa porra do mesmo t persegue tal qual um espírito obsessor dos livros da Zíbia! Tô no meu cantinho! Vai embora!Acontece que não tenho mais medo do mesmo... Tô aprendendo a rir dele.Será que o medo que a gente tem das pessoas é de se tornar igual a elas? Não, não tenho. Não tenho mais. Tô cheia dos mesmos, mas a mesma não sou mais eu. E o pior é que eu queria escrever uma coisa cheia de fúria e de verdade, daquela rasgada de doer. Como se eu fosse uma mulher de 42 anos, dois filhos, um divórcio, manjada das dores e dos amores que essa vida pode te oferecer, ou tirar de você. Uma cicatriz na barriga de um ex descontrolado e uma muito mais dentro dela, de um aborto mal feito.Daquelas que entra num pub quase vazio no meio da madrugada, tira sua capa de chuva como se tivesse fazendo um strip mas não tá nem ligando se alguém tá vendo. Senta. Pede whiskye sem gelo e não bebe. Já está embriagada de tudo e observa os casais com olhos cansados. Um meio sorriso nos lábios e escreve, escreve sobre a vida como se já tivesse vivido a vida todinha ido e voltado pelo menos duas vezes. Daquelas coroas gostosas de filme americano,e misteriosas. Com toda sabedoria do mundo nos seus olhos leves, mas cansados e no seu whisky 18 anos quase quente agora.Não sou ela. Espero ser uma coroa gostosa um dia, mas... sabe quando você quer estar cansada de tudo? Ter uma desculpa para o foda-se? Botar a culpa nos homens, no governo... mas não existem culpados. Não existe culpa. Talvez um pouco por não ser antes o que sou agora, mas, agora...Ah, agora seja com o mesmo do mesmo ou um pedaço do novo que seja, não tenho medo. Não tenho cansaço nos meus ombros ou se tive já me acostumei, aguento mais. Aguento não, posso mais. Não do peso, mas da levesa que começo a conhecer agora, que talvez só venha com o tempo e tá aqui agora, o tempo todo do meu lado. Peso que me leva como asas... E nem é mais peso. Peso que vai embora conforme eu cresço e o "problema" não é a idade ou a cara de menina. Não é ter sido "a filha da professora" ou a carência em pessoa. Talvez essa que eu vejo no espelho continue com cara e risada de criança durante mais uns bons anos, talvez eu sempre vá me sentir idiota e pré adolescente ao lado de qualquer homem que seja 1 ano mais velho que eu. Não, espero que não. Mas conforme o peso do tempo e das escolhas e da caminhada chega...Eu me sinto mais leve, mais leve...E com mais vontade de me arriscar nesse abismo que é viver. Com mais vontae até de sofrer se não for possível evitar. Com mais vontade de escolher, e escolher errado pra ver as pessoas ao redor com cara de "eu não falei" chorar e rir depois.Rir muito no final.De tudo.

Comentários

Larissa disse…
Texto FABULOSO, ao ler seus textos me identifiquei com suas palavras e com a maneira que escreve. [...]" porquê o mesmo eu já conheço, do mesmo eu já tô cheia.". Posso não ter compreendido corretamente, mais vejo em seu texto uma revolta, uma revolta que todos passamos de tempos em tempos.

Sim, acredito que o medo das pessoas de se tornarem iguais às outras é latente e nossos atos são para nos diferenciar dos demais. Como disse acima, texto fantástico, parabéns!!