Do you want mince pie, Juliãná?


Eles nunca estiveram no país em que eu vivi minha vida toda. Nunca ouviram as músicas que embalaram a minha história. Nunca comeram o alimento que me sustentou durante tantos anos. Nunca pronunciaram uma palavra em português, nunca usaram a minha linguagem para pensar. Eles não sabem da fome nem da solidão do meu povo. Eles nunca beijaram a face da minha mãe. Eles não amam quem eu amo. Eles não sabiam que eu existia.

E assim mesmo eles vivem, respiram, comem, amam.


O mundo é maior do que eu mesma, que meu país, maior que minha cultura. Ainda não sei explicar o que essa sensação me causa – admiração, solidão, fraternidade? Talvez as ruas cosmopolitas de Londres me ajudem a descobrir. Nas várias línguas que escuto, pode estar a resposta. Quando eles conversam, parece que estão cantando. Viajo pela sonoridade e pela melodia que, entrelaçadas, as vozes masculinas e femininas emanam. Tchupatí, xucríaaa...

Agora eu sei como vive o povo deles. Escuto sua música, pronuncio sua língua, como sua comida, sei que seus conterrâneos, assim como os meus, também sofrem. Eles são adoráveis.

Agora, não sou mais Juliana. Sou Juliãná. Tenho que desconstruir minha língua, meus pensamentos para descobrir esse novo mundo. Sou brasileira de origem italiana que vive num apartamento na Inglaterra com dois indianos. Conversei com africanos, franceses, afegãos. Humanos.

Comentários

IgorVilla disse…
legal essa descoberta de que o mundo é maior do que a gente... "humildece" a alma...