Aqueles dois eram eu. Eu e você. Do outro lado da rua.
Sem pensar. Sem sentir. Sem palavras falsas caídas dos lábios nem promessas que nunca serão ditas, mas pensadas. Sem um ato contínuo que torne a relação uma relação. Sem laços. Sem facas.
Eu e você. Mas pra que precisaria existir qualquer outra coisa? Qualquer outro item, qualquer fala, pausa, palpitação, cenário, transeunte que passa caminhando com um cigarro na boca e mão nos bolsos, mãe carregando filho no colo, alguém esbarrou em mim sem querer. Desculpa, tudo bem. Não ela não pede desculpa. Eu peço, pelo que eu não sei.Nada, nada. Nem cenário, nem memória. Nem em pensamento precisaria haver qualquer outro qualquer coisa qualquer um. Porque eram só você e eu naquela rua, pra que rua? Pra que pés, pra que caminhar um caminho se ele sempre vai ter que nos levar a algum lugar ou se eu vou ter que fingir que sei pra onde vou quando eu nem sei onde eu estou. Caminho nenhum eu quero. Nem caminhar. Nem chão, nem céu.
Eu e você. Do outro lado da rua.
Que rua?

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