Levantei da mesa com o copo ainda cheio. Um dedo de uísque barato talvez, mesmo assim, um grande desperdício.
As histórias que me contaram se atropelavam na minha mente. Seus personagens se cruzavam na minha cabeça, todos sedentos. Famintos.
Quem era eu naquela noite fria? Só o solo sob seus pés? Tantos pés! Tantos caminhos. Eles não eram eu, mas cruzavam a minha mente em zigue zague, e embora eu sempre tivesse a sensação de que todos chegariam a suas casas, seguros para dormir numa cama quentinha, eu...Aquele que só observava ou, aquele dava base para aqueles caminhos, era eu quem ficava tonto. Era eu que não sabia para onde ir. Era eu, e somente eu que não conseguia simplesmente dar um passo após o outro. Eu que já dera tanto conforto, eu que sempre tive os braços abertos para consolar os famintos.
Me apoiei no balcão e olhei as marcas de dedos enfeitando o bar. Uma mosca dançava pra mim sobre uma coisa escura que eu preferi não identificar.
Mais um uísque talvez? Não, não descia. Nada descia em mim depois de tantos caminhos caminharem em mim. Tantas histórias em minha mente, tantas mais em meus lençóis.
Todas aquelas histórias eram minhas também, talvez fosse essa a razão de tanto desconforto. Porque minhas histórias se repetiam e eu...E eu? Que personagem era nisso tudo? Porque todo mundo passa, todo mundo passava, e outros tantos vinham...E eu? Em que lugar estava do meu caminho? Da minha história? Porque quando nossas histórias se cruzavam, por um momento parecia ser a mesma, mas nunca era. E eu era só uma página, e todos tantas páginas. Mas e esse livro que não acaba, que nada acaba, pois nada começa e se tudo começa será que eu estou no meio? Mas no meio de que? No meio dessa bagunça que é a minha vida, a minha cabeça, a minha cama. E quem me espera agora para outra noite de consolo? Para outra noite de ilusões bem alimentadas, não, ninguém sai com fome dos meus braços, mas eu...Eu continuo faminto.

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