Em minha vida, ela

Num dia perdido da memória, um professor que morava perto de onde eu trabalhava, durante um gole e outro de café, sugeriu-me que eu estudasse a Gilka Machado. Quem? Eu não fazia a menor ideia de quem era essa mulher. Por confiar no discernimento desse amigo, pesquisei sobre a obra dessa poetisa – amor a primeira vista.

Gilka Machado foi uma poetisa carioca que lançou seu primeiro livro, Cristais Partidos, em 1915, época de dolorosas e profundas repressões patriarcais. Como se não bastasse ousar escrever poesia num cenário dominado pelo discurso masculino, essa mulher brilhante expôs sua carne e seu desejo em seus poemas eróticos, combatendo ferozmente os ditames sexistas.

Foi criticada duramente, humilhada e relegada ao esquecimento literário. Mas o que mais me chamou a atenção no percurso de seus onze livros publicados foi a perseverança de uma mulher que não se submeteu aos padrões impostos pela sociedade machista. Cantou alto seu hino: Ser mulher, e, oh! atroz, tentálica tristeza! / ficar na vida qual uma águia inerte, presa / nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

Com minha amiga Gilka, descobri a aspereza de um mundo desigual; e, o mais importante, o valor de se lutar por seus ideais. Verso após verso, uma luta diária e persistente em nome do amor.

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