Castor, Pollux, Mekbuda e Cigarros.



Esse é o meio do segundo maço.
Aceita um?
Eu conheço os malefícios, sei que isso vai acabar comigo um dia, mas não agora.
Então não faz diferença.
Além disso não vivo no meio da floresta, estou no maldito coração de uma cidade enorme cheia de fumaça, por isso, eu e os não fumantes podemos até não andar com fósforos nos bolsos mas sempre estamos com um cigarro na boca. Gosto dos meus vícios. São meus.
Não é o gosto da combinação química suja.
Não é a dependência do material entre os lábios.
Sou eu.

É o ato em si.
A reconfortante certeza que há um final para tudo e que esse fim irá levar-me para minha redenção.
Nesse intervalo, sem noção do custo, espero pelo dia de ser cobrado.
Sem medo e, se possível, aumentando minhas dívidas. Meus pecados.
Sem segredos.
Sou eu.

É o ato em si.
Talvez não haja depois para se arrepender.
Talvez não haja nada, nem culpa.
Talvez ninguém apareça. Jã são dez horas.
O copo de Yamazaki 1984 entre minhas mãos é o meu presente de aniversário, a terceira dose da noite. Não é o gosto da delicada combinação entre baunilha e canela.
Não é a sensação de ver o mundo através de um véu gelado e indolor.
Sou eu.
É o ato em si.
É saber que da vida não se carrega o sabor das coisas.

Já são mais de dez horas, não achava que alguém fosse aparecer.
O salão do hotel está vazio, esses meses no meio do ano são sempre frios e quietos como fantasmas, fazem você pensar no que é e em como poderia ser.
Lá fora há algumas pessoas sozinhas e todos parecem tão iguais a qualquer um que já tenha conhecido, conversado ou visto na Barclay street, Chanoinesse, Augusta ou Plaza de Bolívar.
O gosto do cigarro é similar em todos esses lugares, assim como do whisky.
O gosto das pessoas é igual.
Suas bocas tem as mesmas necessidades, embora se movam com línguas diferentes, e depois que se aprende seu ritmo tudo flutua sobre uma idêntica gravidade opaca.
Envelhecer não deveria deixar minha alma amarga.

Hoje é meu aniversário.
Envelhecer, por si, não torna alguém melhor.
Continuo sendo o que sempre fui e única diferença palpável é que tenho consciência sobre isso.
Em poucas palavras:
Com a idade você não deixa de ser um filho da puta... Só passa a escolher as ocasiões para sê-lo.
São dez e meia.
O segundo maço está acabando, mais três apenas.
Father, son and the holy ghost.
Penso nos meus amigos.
E em quem já se foi.
E não é a falta deles que me incomoda.
Sou eu.

É o ato em si.





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