Flor Fantasma



Ela ainda está acordada?

Pensando sobre o que deixou de ser.
Procurando em todos os lugares.
Por coisas que nem notou perder.

Ela ainda está por aqui?
Sentindo-se tão longe e diluída.

Andando para todos esses lugares.
Sem tempo para ser contida.

Há um magnetismo indivisível nesse exato momento.
Em torno dela e não me refiro.

Ao elegante e evidente arranjo.
Entre o seu corpo.
Realidade.
E tempo.

Falo de algo infiltrado.

Depois da camada macia de pele.
Sob o vazio e entre a completude.
Sobre os conceitos e no interior do pensamento.

Possível.

Enquanto ela move-se entre as pessoas.

Inconsciente.

Dos fatos e efeitos.

Em sua passagem.
Como uma estrela de gravidade absoluta.
Desatenta.
Aos olhares que atrai.

Inconstante.

Sem saber exatamente se ocupa o espaço de diva ou de eclipse.

Sem escolher entre permanecer ou ser ausente.
Sem dizer se ama ou é amada.
Nesse paradoxo descansa.
Toda a possível tristeza.
E o silêncio.
Não é fácil viver insatisfeita como brisa, e ao mesmo tempo, incompleta como tempestade.

Aqueles que estão próximos observam essa dualidade.

Tentando, inutilmente, decifrá-la.
Como se ela estivesse além da linha conhecida dos eventos.
Incompreensível.
Intocável.
Impossível.
Removê-la desse espectro.
Imprevisível e intolerável.
Eles tentam viver sua vida, decidir suas coisas, dizer por qual caminho ela deve ir.
Escolhendo por ela.
Sem pensar se é isso o que ela deseja.

Presumindo conhecê-la.
Assumindo protegê-la.
Desejando torná-la.
Constante.

Sem saber exatamente se ocupa o espaço de diva ou de eclipse.

Sem escolher entre permanecer ou ser ausente.
Sem dizer se ama ou é amada.

Ela ainda está acordada?

Pensando sobre o que deixou de ser.
Procurando em todos os lugares.
Por coisas que nem notou perder.

Ela ainda está por aqui?
Sentindo-se tão longe e diluída.
Andando para todos esses lugares.
Sem tempo para ser mantida.

In.

Constante.
Dúvida.


Moacir Novaes

Comentários

Filipe Ribeiro disse…
Lindo texto, lindo e anacrônico, podia ter sido escrito no século XIX, ou em qualquer época por um adolescente apaixonado. Você carrega na tinta do romantismo, mesmo assim é um dos melhores escritores que eu conheço, é um feito, parabéns!
Anônimo disse…
É definitivamente um dos textos mais surpreendentes que já lí... É envolvente, arrebatador, estonteante!
Senti-me parte, e sendo parte sentí-me ela plenamente. A ser ornada, admirada, com paixão e desvelo.. Parte sua..
Ou mesmo nada..
Numa mistura louca de candura e sensualidade..
Parabéns anjo... ;)
Anônimo disse…
Esse é um dos textos mais surpreendentes que eu já lí. É envolvente, arrebatador, estonteante..
Sentí-me parte, e sendo parte sentí-me plenamente ela..
Parte sua,
Ou parte de nada..
Devaneios..
Moa, parabéns..
Bjos anjo...
Anônimo disse…
Tenha certeza que seu texto será eternizado... Ao menos na minha memória.

Pois acho que nem eu mesma descreveria tão bem a inconstância de ser uma flor fantasma.

Obrigada por entender e exteriorizar algo tão intrínseco que poucos conseguem observar.

Estará sempre comigo.
Anônimo disse…
Como não vir aqui e não deixar-me embriagar por este texto tão singelo e tão sublime?? É meu favorito..
Admiro-te sempre anjo!