art by ~Sblourg
Nunca tive medo de andar de bicicleta!
Lembro-me bem de quando aprendi: no fundo do quintal da casa da minha avó, meus primos aproveitavam um pequeno morro para me empurrar ladeira abaixo até que a bicicleta chocava-se contra a cerca e eu me arrebentava. Repetimos esse processo estúpido e divertido até que eu finalmente consegui manejar o guidão e desviar da iminente colisão.
Quando somos crianças o medo é algo que não nos atinge. Ao menos não me atingia em alguns casos. Especialmente ao aprender algo divertido. Mesmo que o processo pudesse vir a ser doloroso eu me atirava de cabeça (algumas vezes, literalmente).
Mas sei que tive medo de andar sem as mãos.
Não sei, mas era algo assustador: a sensação de ir a adiante sem controle, apenas com a força propulsora das pernas, tentando se equilibrar sem apoio. Um medo primal de cair e se machucar feio.
Tive muito mais dificuldade de executar esse movimento do que aprender a dirigir a “magrela”. Depois de muitas tentativas, acabei por dominar e até me sentir confortável em andar pelas movimentadas ruas da cidade sem ao menos encostar no guidão.
Isso até o dia em que a roda dianteira virou de lado e eu mergulhei violentamente contra o solo.
Decidi que, mesmo tendo muita experiência, não queria me arriscar naquela loucura que era misto de prazer e pavor!
Só que o mundo roda...
Dois meses atrás eu vi uma bicicleta linda! Seus detalhes me chamaram a atenção e me senti impelido a montar nela e me divertir por aí! Eu estava há alguns anos sem andar e, apesar não esquecer o básico, ao tentar soltar as mãos, meu coração disparou com a instabilidade gerada pela falta de controle. Em frações de segundo me vi admirando as estrelas, chorando de dor e com raiva de mim mesmo.
Foi tudo muito rápido: um impulso, duas voltas e a queda.
Em um primeiro momento eu sentia apenas arrependimento. Fiquei revoltado por ter sido tão estúpido e ingênuo ao acreditar que poderia ser feliz novamente com essa maluquice!
Dias depois me peguei relembrando e me dei conta de que tinha guardado a impressão errada daquela experiência. Afinal, eu queria pedalar novamente e naqueles poucos instantes em que eu abri mão da minha segurança, tive a certeza de que não importava quanto tempo duraria, mas que aquela alegria libertadora valia cada tombo!
Texto: Danilo Lodi
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