Mármore Azul


photo by NASA



O primeiro pensamento que correu por ele foi olhar e procurar algum ponto de referência conhecido.
Intuitivamente as imagens de prédios, estátuas, lojas e casas se formaram em sua memória, isso claro, até ele compreender racionalmente que nada previamente visto estaria presente ali. Pensou então em rios e montanhas, nas aulas de geografia que lhe passaram desapercebidas e buscou qualquer traço grande o bastante, algum sinal humano ou prova da nossa existência, contudo, não conseguiu ver a muralha ou as pirâmides.
Era até mesmo difícil reconhecer os países, tudo parecia uma extensão de alguma outra parte.
O contorno dos continentes estava visível, mas não havia como traçar mentalmente as fronteiras.
Um espaço maciço e imensamente vazio.
Flutuando sem qualquer som e isolado.
Ele tinha uma clara sensação calma de inexistência. O planeta abaixo de suas botas parecia tão sereno.
Não havia sinal algum das guerras, fome e mazelas que ele conhecia, mas também não existia qualquer traço da arte, música ou felicidade.

“Então é isso o que eles queriam dizer...” Murmurou dentro do capacete ao ver como tudo ao alcance dos seus olhos parecia ser apenas um corpo único.
O azul profundo e onipresente em oposição à escuridão total.
Algumas nuvens brancas, ciclones e tempestades e todas pareciam tão pequenas. Verde em locais limitados, ocre ao longo de milhares de quilômetros e o azul contínuo dos oceanos.

Outro camarada astronauta, Gagarin, tinha razão.
A Terra é azul.

Ela não é branca, amarela, negra ou vermelha.
Ela não é a Europa, não é a América ou África. A Terra não é a Ásia ou Oceania.
Ela não é Humana.

Ela é azul.
E realmente, ele também, não via nenhum Deus lá em cima... Ou lá embaixo.

Via somente um planeta azul.
Que não pertencia a ele.



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