Para registro: “Eles também já dominaram a Terra um dia...”





Photo by Chris Thomas
London Natural History Museum



O tempo aqui simplesmente não existe.
É dia, apenas isso, logo será noite e isso também será o suficiente.
Este é todo o conhecimento sobre o tempo que ele e sua espécie utilizam.
Não há a abstrata esperança que ocorra o dia seguinte.
Ele tem somente o presente como certeza.

A criatura não parece apta a mensurar razões ou causas teóricas, contudo, estava perfeitamente preparada ao ato.

Se você estivesse aqui, se pudesse ter a combinação de sensações leves de toda a cena, compreenderia como o presente já era, por si, completo.

Sentiria esse ar úmido e denso de oxigênio.
Haveria terra sob seus pés, você também notaria todos os tons desconhecidos de verde e madeira ao seu redor. Talvez sentisse, caso conhecesse, falta de Bach e de sua suíte nº1 porque tudo ao alcance da sua vista teria sentido claro e direto, até mesmo os olhos vazios e a respiração baixa da criatura diante de você. Tudo estaria equilibrado e harmônico.

Ele, possivelmente, nem notaria sua presença por estar ocupado executando outra tarefa.
Caçar exigia dele um tipo específico de inteligência especializada em ações, eficiente e focada.
Não havia planos elaborados ou arrependimento, nem medo em se falhar ou dúvidas. Só existia um animal impressionante, com quase sete metros de altura e quatorze de extensão, movendo-se por entre a vegetação como um fantasma.

Assim que alcança o campo aberto ele ergue a cabeça, que a princípio parece desproporcionalmente grande, para farejar o ar. Seu olfato é apurado ao ponto de sentir uma trilha de gotículas de sangue, o cheiro da carne ferida e exposta lhe é quase tangível.
Ele abaixa as narinas e move-se para uma determinada direção, seguindo uma linha invisível e caminhando resoluto até encontrar o corpo deitado e sem vida da criatura que havia ferido.
Antes de morder, aproxima o focinho e procura seu próprio cheiro nos cortes abertos e no sangue, ele não fez isso para reconhecer sua obra, mas para entender que deveria parar de procurar e começar a comer.

Simultaneamente, enquanto ele sente o primeiro gosto dos largos pedaços de carne sob a sua língua, um meteoro desgarrado, com cerca de quinze quilômetros, avança através da atmosfera em rota de colisão com a Terra.
Essa pedra, nos segundos seguintes, seria a responsável por eliminar mais de noventa por cento de toda a vida do planeta, inclusive nosso caro amigo cheio de dentes.

Por gentileza, gostaria que vocês olhassem a placa próxima das patas, ela diz:
“Eles também já dominaram a Terra um dia...”

E que isso nos sirva de lição.
Vamos continuar nosso passeio e ver os mamíferos marinhos. Mantenham-se juntos.
O professor precisou chamar a atenção de alguns adolescentes que queriam tocar os ossos. Ele os reuniu e guiou o grupo pelo salão até a próxima ala do museu.
Os alunos mantinham-se fascinados pelos imensos fósseis espalhados no caminho, alguns pensavam no som da explosão do meteoro, outros em como seria se aqueles bichos ainda estivessem vivos.

A maioria, contudo, apenas imaginava como seria o sabor da carne de dinossauro.




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