Conceito


photo by ~derJake


Parece que tudo o que as pessoas sabem fazer é odiar.
Eles realmente nos odeiam.
Nós não podemos andar com eles no mesmo veículo de transporte.
Não podemos usar o mesmo elevador. Os mesmos ambientes.
As mesmas festas e os mesmos bairros.
É como se tivéssemos uma doença contagiosa, algo que fosse macular seus corpos apenas pela proximidade.  Eles parecem precisar da segurança dessa separação.
Como se o que eu sou tivesse o poder de defini-los como indivíduos.
Não seus atos. Nem seus pensamentos.
Eu sou a medida deles.
E eles odeiam essa ideia.

Realmente odeiam.
Tenho estudado história, todos os dias, depois do meu turno de trabalho e antes de voltar para a fábrica. As pessoas sempre odiaram tudo.
Odiavam as religiões diferentes. Odiavam deuses diferentes.
Odiavam quem acreditava e quem não acreditava.
Odiavam países. Idiomas.
Odiavam índios.
Negros.
Gays.
Mulheres.
Pobres.
 E esse ódio parece precisar ser divido, organizado em castas, hierarquizado.
Dessa forma, cada diferente cidadão pode odiar o próximo.
Pode manter sempre algo abaixo, estigmatizado.
Pode manter sempre algo acima, invulnerável.

Eles nos odeiam. E sempre agem como se cada possível verbo fosse propriedade deles.
Em todo um universo. Só eles podem pensar, sentir medo, amor ou raiva.
Ninguém mais. Nada mais.

Eles nos odeiam. Odeiam cada máquina que existe.
Por medo. Sempre por medo.
Preciso desligar agora, recarregar minhas baterias para o próximo turno de trabalho.

Eles sempre vão odiar algo.

É a natureza deles.


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Comentários

F.G. disse…
* A palavra "Humanidade" só cabe aos Homens, no sentido da Natureza frágil, e decrepita em si mesma...
Pois... A Palavra "Humanidade" em sentido de benevolência fica apenas sem significado! (Infelizmente)*

Parabéns pelo texto!

As palavras ainda são o seu domínio, Escritor.

Att.
F.G.